E se o governo Collor não tivesse caído?
Em 1992, o Brasil vivenciou o seu primeiro impeachment presidencial. Fernando Collor de Mello, eleito em 1989, com uma imagem jovem e reformista, foi afastado em meio a uma avalanche de denúncias de corrupção, protagonizadas pelo esquema de PC Farias. Mas e se o impeachment nunca tivesse ocorrido? Como seria o Brasil se Collor tivesse cumprido integralmente o mandato até 1995?
4/17/20252 min ler


Uma continuidade liberal prematura
O governo Collor implementou, já em seus primeiros meses, uma série de medidas de abertura econômica, privatizações e desregulamentação. Seu programa rompia com a tradição estatista brasileira e antecipava o que seria aprofundado apenas nos anos FHC.
Sem o impeachment, o Brasil teria tido uma década de 1990 ainda mais liberalizada desde o início. Provavelmente, empresas estatais como a Telebras, a Vale ou a Embraer teriam sido privatizadas ainda sob Collor — e não sob Fernando Henrique. A globalização da economia brasileira talvez tivesse começado antes.
Uma estabilidade política precária
Apesar de sua plataforma reformista, Collor governava com uma base frágil e pouco dialogava com o Congresso. Sua permanência no poder dependeria de uma improvável reorganização política.
Caso tivesse sobrevivido ao escândalo, Collor teria enfrentado uma forte oposição parlamentar e popular. Seu governo teria sido marcado por conflitos e paralisia decisória. Ainda assim, a consolidação de sua agenda poderia ter transformado o Brasil numa economia mais parecida com o Chile dos anos 2000.
A figura de Lula e o futuro da esquerda
A derrota de Lula em 1989 para Collor moldou a imagem do petista como vítima de um sistema injusto. Mas se Collor tivesse governado até 1995 com algum sucesso, talvez Lula não tivesse o mesmo protagonismo nos anos seguintes.
O PT poderia ter demorado mais a chegar ao poder — ou mesmo ter sido superado por outra força da esquerda, como o PDT de Brizola. O ciclo petista que começou em 2003 talvez jamais tivesse existido.
A mídia e os movimentos sociais
Sem o impeachment, o papel da mídia (especialmente da Globo) teria sido visto com outros olhos. A campanha dos "caras-pintadas", que mobilizou milhares de jovens contra Collor, talvez fosse deslegitimada ou esvaziada — com um impacto profundo sobre o engajamento político da juventude.
Além disso, a ausência de uma ruptura traumática como o impeachment teria moldado uma geração menos cética em relação à política institucional.
O escândalo abafado — e o efeito cultural
Se Collor tivesse resistido à pressão e o caso PC Farias fosse minimizado ou abafado, a percepção pública sobre corrupção poderia ser diferente. O Brasil talvez levasse mais tempo para entender a profundidade sistêmica dos esquemas de poder, e a Lava Jato — se ocorresse — poderia ter tido um outro impacto cultural.
Conclusão
A queda de Collor simbolizou o início da maturidade democrática brasileira. Sua permanência, por outro lado, talvez tivesse acelerado reformas econômicas, adiado a ascensão da esquerda e transformado a forma como o país lida com escândalos políticos. O Brasil teria seguido em frente, mas por uma estrada bem diferente.