E se o Brasil tivesse mantido a capital no Rio de Janeiro?

Quando Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960, o objetivo era claro: integrar o interior do país, descentralizar o poder e projetar uma nova imagem de modernidade. Mas e se essa mudança jamais tivesse acontecido? Como seria o Brasil hoje se o Rio de Janeiro continuasse sendo a capital federal?

4/10/20252 min ler

white cable car traversing on top of hills overlooking city by bay
white cable car traversing on top of hills overlooking city by bay

Essa hipótese levanta questões sobre urbanismo, desenvolvimento regional, política e até segurança pública. Teria o Rio se tornado uma supermetrópole como Paris ou Tóquio — ou afundado sob o peso da violência, do colapso urbano e da centralização excessiva?

Por que a capital foi transferida?

A ideia de transferir a capital é antiga — já aparece na primeira Constituição republicana de 1891. O plano era "interiorizar o poder", aproximando o governo das regiões centrais do Brasil. Juscelino Kubitschek, presidente entre 1956 e 1961, transformou o plano em realidade como parte do ambicioso programa “50 anos em 5”.

Brasília foi criada para ser símbolo de progresso e unidade nacional. Mas sua construção também serviu a interesses estratégicos e militares no contexto da Guerra Fria, garantindo ao governo mais controle sobre o país longe das zonas costeiras vulneráveis.

Se o Rio continuasse sendo a capital...

1. Concentração total de poder

Com o Executivo, Legislativo e Judiciário todos ainda no Rio, a cidade teria se consolidado como um verdadeiro centro de decisões — talvez até mais do que é Brasília hoje. A presença contínua dos Três Poderes reforçaria a influência de políticos, lobistas, empresários e corporações no eixo Rio-São Paulo.

2. Crescimento urbano ainda mais acelerado

A cidade já sofria com inchaço populacional, infraestrutura precária e desigualdade. Sem o "alívio" causado pela mudança para Brasília, o Rio possivelmente teria entrado em colapso logístico. Ou, por outro lado, teria forçado grandes investimentos em mobilidade, habitação e saneamento para manter a ordem funcional — criando um cenário parecido ao de megacidades globais como Londres ou Tóquio.

3. Segurança pública e tensões sociais

A permanência do governo federal poderia ter influenciado a segurança urbana. Uma capital não pode conviver com níveis extremos de criminalidade sem afetar sua legitimidade — o que talvez forçasse políticas mais rígidas, reformas estruturais nas polícias e uma abordagem mais integrada às favelas. Ou, ao contrário, tornaria o centro do poder um alvo constante da instabilidade.

4. Brasília: um "elefante branco"?

Sem função de capital, Brasília talvez jamais existisse — ou, no máximo, teria sido construída como cidade-satélite ou centro militar. Isso impactaria profundamente o Centro-Oeste, que deixou de ser uma região periférica graças à presença da nova capital.

Goiânia, Anápolis e o entorno de Brasília não teriam vivido o boom populacional e econômico das últimas décadas. A agroindústria do Cerrado talvez demorasse mais a florescer — ou seguiria outro caminho, mais ligado a São Paulo e ao Sul do país.

Impactos políticos e simbólicos

A mudança para Brasília representava também uma tentativa de romper com o passado colonial e centralista. Manter o Rio como capital reforçaria o poder simbólico da antiga corte portuguesa, mantida por quase dois séculos na cidade.

A elite política se manteria ligada à lógica aristocrática do Sudeste, e a integração nacional talvez fosse ainda mais desigual. Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste poderiam continuar marginalizados — ou mesmo pressionar por descentralização política mais tarde.

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