E se o Brasil tivesse adotado o Esperanto como língua oficial?

A história do Brasil é, por si só, um caleidoscópio linguístico. E se, no lugar do português, tivéssemos escolhido uma linguagem neutra, global e planejada como sua língua oficial?

4/16/20253 min ler

Um novo alicerce linguístico

Criado em 1887 pelo polonês L. L. Zamenhof, o Esperanto surgiu como uma tentativa de criar uma língua fácil de aprender, neutra e sem vínculos coloniais. No Brasil, seu uso chegou a ser incentivado por intelectuais e movimentos progressistas no início do século XX, especialmente em tempos de forte nacionalismo e debates sobre identidade.

Se tivéssemos oficializado o Esperanto — talvez em um momento de ruptura, como a proclamação da República em 1889 — o país teria assumido um caminho radicalmente diferente em termos de cultura, política externa e educação.

Uma identidade mais universal, menos colonial?

A adoção do Esperanto representaria um rompimento direto com o legado colonial português. Seria um gesto simbólico e prático de recomeço, sinalizando uma tentativa de construir uma nova identidade nacional mais igualitária e menos associada à dominação europeia. Isso ecoaria, em certo sentido, o espírito de movimentos como o modernismo de 1922, que buscava uma cultura autônoma e original.

No entanto, como apontam historiadores como Eric Hobsbawm, as línguas nacionais desempenham um papel central na construção dos Estados modernos. Uma língua sem raízes históricas profundas entre o povo poderia enfrentar forte resistência — ou resultar em alienação e desintegração cultural.

Os impactos sociais e educacionais

Do ponto de vista prático, o Esperanto é extremamente simples. Uma criança brasileira média poderia aprender a se comunicar fluentemente em poucos meses — algo impensável no aprendizado do inglês, por exemplo. Isso criaria uma população mais aberta à comunicação global e eliminaria parte das desigualdades educacionais geradas pela barreira linguística.

Entretanto, especialistas como Noam Chomsky observam que as línguas não são apenas meios de comunicação — são estruturas que moldam o pensamento. O uso de um idioma artificial poderia, em tese, simplificar demais a forma como as ideias são articuladas e expressas, perdendo nuances culturais e filosóficas.

A geopolítica da linguagem

No cenário global, o Brasil poderia ter se tornado uma potência mediadora — atuando como ponte entre diferentes blocos linguísticos. A presença brasileira nas Nações Unidas, em organismos multilaterais e na diplomacia internacional teria um valor simbólico e prático amplificado. Imagine conferências globais conduzidas por diplomatas brasileiros não em inglês, mas em Esperanto.

No entanto, o poder linguístico também é geopolítico. O inglês, mais do que idioma, é uma plataforma de dominação cultural e econômica. Ter abandonado o português, sem abraçar o inglês, talvez deixasse o Brasil isolado ou mesmo marginalizado nos fluxos de influência global.

Cultura: mais liberdade ou mais perda?

A música brasileira seria escrita em Esperanto? E a literatura de Machado de Assis? O cancioneiro de Chico Buarque? Parte da riqueza cultural do país está profundamente enraizada nas nuances do português — em trocadilhos, em ritmos fonéticos, na “malemolência” verbal que escapa à lógica gramatical.

Embora o Esperanto possa carregar emoções, sua neutralidade talvez achatasse a capacidade artística de expressão. A cultura brasileira teria se tornado menos autêntica? Ou apenas diferente — mais universal, mais acessível?

Conclusão

Adotar o Esperanto como língua oficial teria sido um ato revolucionário. Talvez excessivamente idealista, talvez prematuro. Seríamos uma nação mais integrada ao mundo, mas correndo o risco de nos afastarmos das raízes profundas que fazem do Brasil... o Brasil.

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